A saúde mental dos colaboradores ganhou destaque, principalmente nesse momento de crise que o mundo está enfrentando. O tema foi colocado em discussão no webinar “Pandemia: como lidar com a saúde mental dos colaboradores”, realizado pelo Grupo Gestão RH, parceiro da Ahgora.

Segundo dados da Universidade da Califórnia, a ansiedade é um dos transtornos que mais acometem a população. No mundo, 3,6% das pessoas sofrem com a doença, enquanto no Brasil esse dado sobe para 9,3%. Embora muitos profissionais ainda mantenham seus cargos, o receio de que haja um corte de salário, redução de jornada ou até mesmo o desemprego estão tirando o sono de muita gente. 

O encontro online reuniu Ana Elisa Siqueira, sócia presidente da GSC Integradora de Saúde; Isabel Azevedo, vice-presidente de RH da MDS Brasil; Renata Gusmon, diretora de RH da Amil e Ricardo Burgos, vice-presidente de capital humano da UHG (Amil e Américas Hospitais). Veja os destaques a seguir.

Boa leitura!

Como a saúde mental dos colaboradores é vista nas empresas hoje?  

Ana

Antes mesmo do COVID-19 já se registrava um aumento no número problemas de saúde mental e o quanto isso estava impactando as relações de trabalho e afastamentos. A maturidade das empresas sobre o assunto vem caminhando, mas assim como a nossa sociedade, muitas delas ainda não veem a saúde mental como um problema de saúde de fato. 

É algo que vem acontecendo mais pela dinâmica da sociedade moderna. O fluxo de informações é muito maior do que a capacidade que as pessoas possuem de absorvê-las. E, com a crise, todos esses fatores se agravaram. Os colaboradores precisam ir para casa e ainda lidar com todas essas questões que surgiram: como vai ficar a economia? como vou trabalhar de casa? como fazer isso com os filhos sem aulas? 

É claro que a crise dá oportunidades de aprender, transformar e sair melhor dela. Mas, todo mundo foi colocado em casa sem as condições de excelência para de trabalhar de casa. E tudo isso, com absoluta certeza, traz uma maior ansiedade. 

As empresas estão tendo, neste momento, a oportunidade de amadurecer um pouco mais rápido para suportar esses colaboradores em home office. É o que temos visto nas empresas que apoiamos e dentro da nossa própria empresa, com várias ações de apoio para os colaboradores. 

Quando a ansiedade e o medo em excesso se tornam um problema maior? 

Ricardo

Esse é um ponto bem importante. Quando as pessoas se deparam com uma situação de grande estresse, é natural que a ansiedade, por exemplo, acaba se tornando um grande desafio. Se formos pensar na ansiedade como a falta de presença, a tecnologia está aí para ajudar, mas esse outro lado fica defasado.

As empresas e a liderança têm uma missão muito grande de organizar, diante de toda a pressão, o trabalho com serenidade e calma. Sem esquecer de celebrar as coisas boas. É um exercício diário e individual mas também a liderança das organizações precisam trazer uma serenidade maior em um contexto de presença. 

Eu acho que isso ajuda a diminuir a ansiedade, contribuindo com a saúde mental dos colaboradores. A ansiedade vai acontecer, mas a ideia é que não se chegue a um estado doentio. 

Qual é o impacto do isolamento social na saúde mental dos colaboradores?

Isabel 

A nossa primeira missão dentro do Grupo MDS não foi só como nós colocaríamos as pessoas para trabalhar remotamente. Então, a nossa empresa se destacou por colocar rapidamente todo mundo em um trabalho remoto e por entender que as pessoas conseguem trabalhar com uma performance importante nesse formato. 

A grande preocupação em todas as ações que endereçamos foi pautada para a comunicação com o colaborador. Como que nós poderíamos estar próximos do colaborador e enviar o nosso abraço virtual para que ele se sentisse confortável em compartilhar conosco as dificuldades que estava enfrentando. 

Nós criamos um portal com um método de filtragem de informações, direcionando aquelas mais importantes para o nosso público. De forma que o colaborador possa aproveitar o conteúdo de uma forma que não traga ansiedade e, principalmente, divulgando informações verdadeiras. Tudo para trazer mais conforto para o colaborador. 

Nesse momento, percebe-se que as empresas estão aprendendo a falar sobre a saúde mental do colaborador realmente. Sempre foi mais fácil falar sobre a saúde física. Estamos aprendendo a observar esses comportamentos deles e abrimos as portas para ouvir os colaboradores, para que eles possam se sentir próximos e possam compartilhar esses sentimentos e emoções, que fazem parte do ser humano.

É importante que a área de Recursos Humanos tenha essa porta aberta para refletir sobre a dificuldade de estar em isolamento, de trabalhar junto da família… nós adotamos essa metodologia de fornecer informações confiáveis, que consideramos sólidas e ter portas abertas. Todo colaborador pode fazer essa conexão com o RH para falar sobre suas ansiedades e a gente vai retornar com as respostas na medida do possível. 

Nós somos bombardeados por informação e, às vezes, muita informação causa ansiedade. Temos nos aproximado dos colaboradores pedindo calma e dizendo que juntos vamos passar por isso. A nossa orientação é que os colaboradores façam um filtro e falem conosco porque nós podemos endereçar a comunicação correta no momento certo. Estar disponível para ouvir e se colocar no lugar do outro é muito importante nesse cenário. 

Ana  

Tivemos um aumento de mais de 300% nos primeiros 15 dias de COVID-19 de chamadas na nossa central de orientação feita por médicos e enfermeiros. Por toda a questão do pânico que gerou. Fomos vendo que de acordo com a evolução da comunicação, que foi ficando mais concreta, mídia e outros canais, esse percentual foi diminuindo.

Isso mostra como é importante que a comunicação seja feita com toda a integridade para que os colaboradores se sintam seguros, evitando que pessoas entrem nesse ciclo de medo e aflição. Como nós trabalhamos com quem está na linha de frente, sentimos isso. Precisamos dar total segurança física para que eles possam atender a essas demandas. Garantir a qualidade da informação, sem dúvidas traz ganhos nessa diminuição da ansiedade. 

É válido oferecer serviço de psicologia online para contribuir com a saúde mental dos colaboradores? 

Renata 

Essa é uma iniciativa que várias empresas adotaram, mas nós já possuímos um programa de apoio ao colaborador. Oferecemos apoio psicológico, financeiro e jurídico. E nesse momento o que nós fizemos foi relembrar os colaboradores desse programa. Também temos médicos e psicólogos que estão dando apoio aos nossos profissionais in loco. 

Entendo que essa iniciativa é bem importante sim. Quando pensamos em toda a questão psicológica, sentimental e emocional, todos estão vivendo isso. É um movimento que gera muita insegurança. É algo que nunca foi vivido. Então, com certeza esse suporte é muito necessário. 

Com relação a preocupação das organizações e das lideranças ao tema de depressão, ansiedade, burnout, que vêm aparecendo muito, isso é algo que já vínhamos acompanhando e valorizamos muito esse trabalho. São duas questões que trazem muito medo e insegurança, o lado físico de pegar a doença e uma incerteza grande sobre a economia, o emprego e o que vai acontecer.

Ana

Usando o pronto atendimento digital a gente evita que o colaborador que tenha tido ou algum contato e passa por algum receio vá fisicamente buscar o atendimento. É uma pré-triagem mesmo. Além de não sobrecarregar o sistema de saúde, a ideia é que ele não infecte. Isso também contribui para a diminuição da ansiedade. Com um monitoramento mais próximo, sentimos que esse primeiro contato com um profissional da saúde, demonstra que um grande medo é a integridade física. 

Isabel

Nós percebemos o quanto é importante manter um profissional da saúde disponível para atender os nossos colaboradores. Recebemos feedbacks nesse sentido. Esse cuidado com as pessoas. A gente precisa ver o que é físico, o que é emocional, enfim. 

Qual o papel do líder e gestor na questão da saúde mental do colaborador?

Ricardo

Nós implantamos a telemedicina para os nossos colaboradores. Esse é um caminho sem volta. E essa pandemia nos deu a oportunidade de evoluirmos. A liderança tem uma responsabilidade de trazer o senso de urgência e uma serenidade ímpar em um cenário como esse. Precisamos ser transparentes e dizer que nunca vivemos isso e vamos passar por isso juntos. É um dia de cada vez.

Tem que sincronizar tudo isso com uma agenda mais positiva também para manter a saúde mental dos colaboradores e de todos. O bem atrai o bem e as coisas vão mudando, esses pontos são fundamentais. 

Renata

Eu tenho visto que a liderança tem também um papel fundamental de acolhimento e de compaixão para com os colaboradores. Não só com quem está na linha de frente e que vive, de fato, uma ansiedade muito grande, mas para quem está em casa também. A realidade de todo mundo é muito diferente. 

Então tem que trabalhar de casa, cuidar de filho… e aí entra a relevância do líder em acolher essa situação, dizendo que entende, que faz parte e vamos administrar isso. Acho que isso também ajuda a manter a saúde mental dos colaboradores e diminuir a ansiedade. 

Isabel 

Tem outras duas ondas também… é preciso manter o contato social, mesmo à distância. É muito importante manter o diálogo e estar próximo. Isso traz conforto para as pessoas. E outro ponto é priorizar o autocuidado, que refere-se ao enfrentamento do desconhecido. Nós nunca vivemos isso. Empatia, compaixão e liderança com uma consciência coletiva. Acredito muito nisso, colocar-se no lugar do outro é muito importante. 

Em resumo, é importante filtrar as notícias e compreender o que é fake nesse bombardeio de informações. Para manter a saúde mental dos colaboradores, a atividade física também e importante e uma forma de desopilar. 

Ansiedade, insegurança e depressão estão mais presentes nesse momento, mas com confiança do profissional para com a gestão, transparência da liderança, serenidade, acolhimento e empatia, atravessar essa crise pode ficar mais leve. Sem esquecer da importância de se comunicar com os colaboradores sempre. O diálogo, mesmo de longe, é fundamental neste processo.

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